9 de abr. de 2013

Lust


Era uma noite fria de inverno no sul de Northamptom. Lua andava devagar pela leve camada de chuva, com as mãos nos bolsos de seu sobretudo e seus salto-altos fazendo barulho na rua de paralelepípedos. Ela dava passos largos até o pub onde encontraria seu próximo alvo: John McCartney, filho de um parlamentar, 23 anos, drogado e devendo aos maiores traficantes do país. Mais um filhinho de papai para ser morto.
Lua entrou, e o sino acima da porta anunciou sua chegada. Recebeu vários olhares, e entre eles, vários pecaminosos. Se pudesse ler os pensamentos, com certeza veria muitas coisa, digamos, depravadas para a normalidade. Algumas até lhe chamariam a atenção, mas não podia se distrair. Apesar de adorar todos os olhares sobre si. Esboçou um leve sorriso e se dirigiu ao balcão.
 

- O ‘Jack Daniels’ mais forte que você tiver. – Ela disse, vendo o barman encarar seus lábios vermelhos.
- Isso não é muito forte pra você, boneca? – Ele perguntou com seu olhar pervertido. Está aí um ser desprezível: aquele que subestima uma mulher.
 
- Eu perguntei a sua opinião? Então, acho melhor você não se meter, ok, querido? –
 Lua disse de maneira suave e ameaçadora. Seus olhos denunciavam seu perigo. 
- Claro. – Ela lançou um sorrisinho e se voltou para os outros lugares do pub. No lugar mais escuro, tinha alguém, com o que parecia ser McCartney, engolindo uma prostituta qualquer.
 
Pegou seu copo e se levantou, andando em direção a ele e sua... companhia. Ainda sentia alguns olhares sobre si, mas era hora do trabalho.
 

- Com licença... – Ela começou com sua melhor voz sensual. – Seu tempo acabou, querida. Seu cafetão mandou te chamar. Falou que você vai pra casa de algum ricasso por aí. – A ‘senhorita’ fez uma cara de tédio. – Ele disse que se você não for, vai mandar Jack te encontrar. – Prostitutas sempre tinham problemas com cafetões e, junto a ele, os caras que surravam e matavam as prostitutas. Jack foi só um nome fictício, mas, de acordo com a cara dela, funcionou. A prostituta saiu correndo, sendo xingada por John. Ele encarou
 Lua em seguida, desconfiado. 
- Não tinha nenhum Jack ou cafetão, né?
 
- Posso trabalhar no teatro? – Ela perguntou, se sentando na mesma mesa que ele.
 
- Acho que sim... Nós nos conhecemos? – Ele perguntou, bastante interessado.
 
- Não. E nem precisamos. Não para o que eu quero... – Ela disse se aproximando pelo banco forrado de couro.
 
- E o que você quer? – A voz rouca, o olhar luxuriante... Ele estava nas mãos dela... Como qualquer outro estaria.
 
- Você. –
 Lua deu um gole em sua bebida, e o olhar sedutor em cima dele, fazendo imaginar o que viria a seguir. – Está pronto para mim? – As pupilas de John já estavam completamente dilatadas de tesão. 
- Porra, o que você quiser... – Ele também começou a provocar. Levantou-se e chegou mais perto dela. Com os olhos fixos no dela, começou a alisar o corpo perfeito da garota escondido debaixo do sobretudo, ela como boa sedutora, deu uns passos para trás e saiu andando em direção à porta, sendo seguida por John, que tentava esconder um sorriso no canto da boca.
 
Lua se distanciou do pub, entrando numa floresta ao redor. Mesmo intrigado com a garota, John continuou a seguindo, pretendia tirar a sorte grande, aquela noite.
 
- Vamos muito longe? – ele perguntou, já não segurando a testosterona.
 
- Não, não. – ela disse, parando no meio do nada. – Aqui já está ótimo. – Começou a desabotoar o sobretudo. John se aproximou, pensando em tudo o que faria com ela.
 
- Que desperdício... –
 Lua se lamentou, em seguida enfiando uma faca desde sua virilha, rasgando até o pescoço. – Era tão bonitinho... 
Lua jogou o corpo cortado ao meio no chão, limpou sua faca e guardou no bolso, feliz pelo trabalho bem feito. Pulou o corpo e o deixou agonizando até a morte. Pegou seu celular e discou um número.
- Está feito. – e desligou, caminhando pra fora da floresta.
 

Arthur estava organizando toda a papelada que estava em sua mesa. Ser um detetive da Interpol era um cargo que precisava de paciência para ser executado. Principalmente com os subordinados que tinha. Ouviu o telefone tocar e revirou os olhos de tédio. “Secretária imprestável...”, pensou, indo atender.
 
- Alô?
 
- Detetive
 Aguiar? – ele ouviu aquela voz novamente. A voz mais sexy e cortante que poderia imaginar. 
- Você. – ele ouviu um sorriso leve e debochado do outro lado.
 
- Liguei pra aumentar a minha lista de homicídios...
 
- Quem?
 
- John McCartney. O filho do parlamentar. Um pub no sul de Northamptom.
 
- Eu vou prender você... Eu vou ter esse prazer. – ela gargalhou, fazendo a raiva de
 Arthur aumentar ainda mais. 
- Eu mal posso esperar pra nos encontramos, meu amor... –
 Lua riu e jogou o telefone roubado na água. Entrou no trem para Londres e pôs seus fones no ouvido, começando a cantarolar qualquer coisa que escutava. 

Lua estava em seu apartamento, contando as libras, fruto de seu último assassinato. Sorria vendo aquele monte de papel com a cara da Rainha... Adorava dinheiro. Resolveu tomar uma ducha para relaxar, afinal, aquela noite não tinha sido uma das melhores, dormindo no trem. Entrou debaixo do chuveiro pensando no que faria naquela noite. Adorava desafios.
 

- É,
 Anna... Eu vou ter que ficar até mais tarde por aqui... Você sabe como é a minha ‘maravilhosa’ equipe. (Pausa) Não, não precisa me esperar acordada... É... Tá no micro-ondas, tá. (Pausa) Eu te amo. Beijo. Tchau. – Arthur desligou o telefone. Era a terceira vez na semana que ele ficava no trabalho até tarde e deixava sua esposa sozinha em casa. Ele estava cansado de ter todo o trabalho burocrático para ele, sendo que havia coisas que seus subordinados podiam fazer. 

Ele estava no milésimo papel para ser assinado quando ouviu algo. Estava sozinho naquele andar. Pegou sua arma e pôs em cima da mesa, só por precaução. Continuou revendo toda a papelada, mas ainda com a sensação de estar sendo observado. Estava tenso. Odiava essa sensação de impotência, vulnerabilidade. Procurou se concentrar ao máximo possível, mas estava difícil. Jurou ouvir passos, mas quando se concentrou, o silêncio era absoluto, a não ser pelo ventilador. Ele voltou a rever os papéis que amontoavam sua mesa.
 

- Oi, meu amor... – ele sacou sua arma rapidamente, apontando para a pessoa parada à frente da porta. – Opa! Desculpa se eu te assustei! –
 Lua disse com as mãos para o ar. 
-
 Lua?
- Que bom que você ainda me reconhece, amor. – ela disse, dando passos mais pra perto da mesa, já com as mãos abaixadas, apesar de ele não ter tirado a arma da direção dela. – Vai atirar em mim?
 
- Eu posso, sabia? E eu posso te prender exatamente agora. –
 Arthur disse nervoso. 
- Pode, mas não vai fazê-lo. Ou vai? – ela falou, levantando uma sobrancelha.
 
- Não me provoque,
 Lua...
- Abaixe essa arma,
 Arthur. – ela disse, se sentando na cadeira em frente à mesa dele. – A Interpol não vai me querer morta. – Arthur abaixou sua arma. Ela estava certa; a Interpol a queria viva. Ele se sentou, ainda raivoso. 
- O que veio fazer aqui?! – ele perguntou, vendo-a brincar com um clip.
 
- Não é óbvio, amor? Ser presa é que não foi. – Ela foi sarcástica e se levantou.
 Arthur tentou pegar sua arma de novo, mas ela foi mais rápida, tirando a mesma da mesa, retirando as balas e jogando-as pela janela. – Agora, sim. 
- Eu posso emitir um alarme e todos os policias da Europa vão vir pra cá, vão te caçar pelo mundo, se acontecer algo comigo. –
 Arthur ameaçou Lua, e ela sorriu. 
- Acha que eu vou te matar, amor? – Ela gargalhou. – Que visão horrorosa você tem de mim...
 
- Que visão eu teria de um monstro,
 Lua? – ele disse com a voz amargurada. Ela esboçou um sorriso leve e abriu seu sobretudo, revelando uma lingerie vermelha muitíssimo provocante. Ele encarou o corpo dela e depois o olhar. Podia ver a luxúria neles. Será que ela podia ver nos olhos dele também? 
- Essa visão é boa o bastante pra você? –
 Lua arremessou o sobretudo longe e soltou os cabelos. 
- O que você está fazendo? – ele perguntou, olhando fixamente nos olhos dela, enquanto ela tirava a bota.
 
- O que você acha de flashbacks, amor? – ela disse, se aproximando mais dele depois de tirar a bota.
 
- Seja direta. – ele bravejou.
 
- Mais? – ele levantou uma sobrancelha para ela.
 
- Vamos concordar que você ainda se sente atraído por mim,
 Arthur. – ele gargalhou nervoso. 
- Eu?! Eu sou casado, querida! – Ele riu sarcasticamente.
 
- Grande casamento... – ela disse, sentando-se na mesa, de frente para ele. Ele se levantou bravo.
 
- Quem é você pra saber sobre relacionamentos?! Ou você esqueceu que você é um desastre?!
 
- Foi isso que o nosso relacionamento foi pra você?! Um desastre?!
 
- VOCÊ é o desastre! – Ele gritou, ainda de frente pra ela. – Eu te amava,
 Lua... Eu queria me casar com você! E você simplesmente sumiu! Nem uma carta! Só umas fotos depois... No seu primeiro assassinato. – Ele falava com os olhos meio perdidos nas lembranças. – Meu Deus, como eu te amava... Eu daria a minha vida por você! Eu fiquei meses me perguntando por quê... Me culpando... Me perguntando o que poderia ter acontecido, o que eu poderia ter feito e ... – Ele bagunçou os cabelos. – E eu conheci a Anna e ela tratou todas as minhas feridas, ela me amou... 
- E você? Você a ama,
 Arthur? Você é apaixonado por ela? – Lua perguntou, se levantando e ficando na frente dele. 
- Ela é incrível, meiga, carinhosa... Ela me amou antes que eu pudesse amá-la e...
 
- Isso não responde a minha pergunta. –
 Lua o cortou. – Você a ama? A ama como sempre me amou? A deseja como sempre me desejou? Seu coração dispara com ela, como era comigo? – A cada frase, Lua chegava mais perto e perto. – Ela faz você se arrepiar com só um toque, como eu faço? – Ela tocou os braços dele, fazendo-o se arrepiar. – O cheiro dela te deixa tonto, como o meu? – Ela subiu as mãos para o ombro, olhando nos olhos dele e se aproximando do rosto. – O beijo dela faz tanta falta quanto o meu? Ele te provoca as mesmas sensações? – Ele segurou firme na cintura dela, puxando-a mais pra perto, unindo os corpos. 
- Não. Não para todas as perguntas. Ninguém faz comigo o que você faz. Ninguém consegue me enlouquecer como você. Eu não consigo amar nenhuma outra mulher enquanto você não sair da minha vida... Definitivamente.
 
- E você quer que eu saia? – Ela sussurrou perto dos lábios dele. Ele desistiu de resistir. Pegou a nuca de
 Lua com a mão livre e a beijou. 

Lua conseguira. Conseguira ter novamente o único homem que amava, ali, beijando-a, desejando que ela fosse dele de novo.
 Arthur a puxava cada vez mais para perto de seu corpo, como se tivesse medo de que ela lhe escapasse – e ele realmente tinha. Lua foi deslizando suas mãos e tirando a jaqueta que Arthur vestia. Arthur, que parecia estar gostando, soltou um sorriso entre o beijo e se deixou levar por ela. Começou a acariciar o corpo dela, enquanto invadia sua blusa e ia levando-a aos poucos, deixando seu corpo a mostra por partes. As unhas dela deslizavam pele abdômen dele, fazendo um frio percorrer toda sua espinha. Definitivamente, não tinha outra que fazia o que ela fazia. Os dois quebraram o beijo para ela poder tirar a blusa amarela dele e arremessar longe. Ele tirou o tênis e as meias, antes de voltar a grudar seus lábios nos dela. Ela perdeu a respiração e parou o beijo, sorrindo. Levou suas mãos à calça dele, tirando o cinto e depois a calça, enquanto ele dava mordidas e chupões no pescoço dela, provocando sensações que ela sabia que não iria sentir com nenhum outro. Quando a calça também foi jogada longe, Arthur levantou uma perna dela na altura de sua cintura, fazendo Lua dar impulso e fechar as pernas na cintura dele, sentindo a ereção dele nítida. Ele a pôs na mesa, fazendo tudo cair no chão. Ele beijava-a avidamente desejando-a cada vez mais, e mais, e mais... Enquanto beijava o pescoço dela, ele desabotoou o sutiã, que teve o mesmo fim que o resto das roupas dele: longe deles. Os dois estavam igualados em relação a roupas. O corpo dela no dele faziam os dois se excitarem cada vez mais. Arthur fez movimentos mais provocativos, prensando seu sexo contra o dela, mesmo que ainda separados pela calcinha dela e a boxer dele. Lua decidiu que não era mais tempo de provocações. Não por agora. Abaixou a boxer dele de uma vez só e mordeu o lábio, fazendo Arthur gargalhar. 
- Cala a boca! –
 Lua disse, dando um tapinha leve no braço dele. 
- Tenho um ótimo jeito de fazer isso... – ele a puxou pela nuca e grudou seus lábios nos dela de novo. Depois tratou de se livrar da calcinha dela. Precisava tê-la. Como nunca precisara antes. Precisava saber que ela era dele de novo. Ele hesitou em penetrá-la. Seu membro estava latejando de excitação, mas ele hesitou.
 
- O que foi? -
 Lua perguntou, acariciando o rosto dele. 
- Eu quero ter certeza. Quero que você tenha certeza. Eu... Quero ter certeza que não é um sonho. Mais um sonho... – Ela o puxou e o abraçou.
 
- Eu te amo. – Ela sussurrou no ouvido dele. Ele se espantou e a encarou.
 
- O quê?
 
- Eu te amo. Sempre te amei. Meu corpo pode ter sido de outros, mas minha mente sempre foi sua. Meu coração sempre foi seu,
 Arthur. – Ele sorriu, pondo uma mecha do cabelo dela pra trás da orelha. – Me faz ser tua... Seja meu, Arthur. Por favor, seja meu. – Ele a beijou suave e a penetrou. Fazendo movimentos leves, no início, e aumentando gradativamente a velocidade. Os corpos fundidos, as respirações formando uma só, os olhares luxuriosos, os gemidos de prazer... Tudo só contribuía pra que o prazer se tornasse tão sublime. Os gemidos ecoavam pelo andar. Os corpos estavam completamente suados. A mesa de madeira velha rangia. E diante de tudo isso, Lua sentiu o prazer invadi-la totalmente, fazendo seus dedos do pé ficarem dormentes. Arthur chegou ao ápice segundos depois, soltando um gemido tão alto quanto o de Lua. Os dois estavam ofegantes, abraçados. Arthur pegou Lua no colo, sem desconectar os corpos, e a levou para um divã que tinha em sua sala. Deitou-a e deitou por cima dela, beijando-a, mas saindo de cima dela em seguida, abraçando-a de conchinha e cobrindo-os com a manta do divã. Ele ficou acariciando os cabelos dela e beijando o pescoço da garota de leve. 

- Eu devia te prender, sabia? Por assassinato, por resistir à prisão e por seduzir um policial. –
 Lua riu. 
- Não sabia que esse último era crime... – Os dois gargalharam. Quando os sorrisos cessaram, eles voltaram a ficar em silêncio, se acariciando.
 
- Posso te perguntar uma coisa? –
 Arthur perguntou, sussurrando no ouvido dela. 
- Quê? – Ela perguntou, se virando de frente pra ele. Ele beijou o topo de sua testa, e ela sorriu. – É algo sério. Algo que você está com receio de perguntar. – Ele levantou a sobrancelha. – Que foi? Ainda sei te desvendar, tá?! – Ambos riram. – Fala logo,
 Arthur.
- Por que você sumiu? Por que me abandonou aqui, sem me dar nenhuma explicação? Sem deixar nem um bilhete com um ‘tchau’?
 
- Você deve estar há quatro anos se perguntando isso, né? – Ele esboçou um sorrisinho sem-graça. – Eu estava perdida. Depois que o
 Chay e o meu pai morreram naquele acidente, eu fiquei desnorteada. Eu estava sozinha... Ou pelo menos achava que estava. Eu não sabia o que fazer, o que pensar. 
- Eu estava com você,
 Lua!
- Mas eu não enxergava isso, amor! Eu achava que você só queria o físico... Não entendia seu amor ainda. O nosso amor. Eu nunca te esqueci. – Ele a beijou e sorriu.
 
- Como você virou uma das assassinas mais perigosas e procuradas da Interpol?
 
- Eu já sabia algumas coisas que o
 Chay tinha me ensinado, depois que ele entrou para o serviço secreto, e, além disso, eu encontrei gente que me ensinou muita coisa. Gente que vocês acham que são do bem e, na verdade, são piores que eu. Eles, sim, deveriam estar na lista dos mais procurados da Interpol. 
- Se quiser me passar alguns nomes... –
 Lua gargalhou. 
- E ser morta em seguida? Acho melhor não. – Ela se abraçou mais a ele, e ele a aconchegou em seus braços. – Acabou o interrogatório?
 
- Sim, Senhorita.
 
- Então já pode acontecer um segundo round? – Ela disse com uma provocação no olhar e na voz.
 Arthur sorriu e começou a beijar Lua, já começando as preliminares do segundo round. 

[...]

Um mês e meio. Esse era exatamente o tempo que
 Lua ia, pelo menos, três vezes na semana, no escritório da Interpol se encontrar com o Arthur. Vocês podem estar se perguntando: “Por que na Interpol, e não em um hotel?” Aventura. Os dois pensavam que a adrenalina sempre esquentava as coisas. 
- Já pensou se algum dia seu chefe entra aqui e descobre a gente? –
 Lua supôs, já abraçada a Arthur, depois do sexo. 
- Nós dois somos presos e fim. Você por assassinato, e eu por ser cúmplice. – Os dois sorriram nervosos. Sabiam que isso poderia acontecer a qualquer momento. Eles ficaram parados, sentados, abraçados no sofá.
 
- Isso vai acabar algum dia? –
 Arthur perguntou com a voz meio triste. 
- O quê?
 
- Nós. Você vai sumir de novo algum dia e me deixar de novo?
 
- O que aconteceria se eu o fizesse? – Ela perguntou, se soltando dos braços dele e o encarando.
 
- Eu não poderia fazer nada. Só gostaria que você me avisasse quando fosse embora. Eu prometo que não vou tentar te impedir de ir. – Ela o beijou.
 
- Não quero que aconteça... – Ele começou a esboçar um sorriso. – Mas, se acontecer, eu prometo que aviso. – Ele ficou sério de novo e concordou.
 
- Que horas são? – Ela perguntou bocejando logo depois.
 Arthur pegou o telefone e viu 7 chamadas perdidas de Anna. 
- Merda.
 
- O que houve?
 
-
 Anna. Esqueci de avisar que ia ficar até tarde. Droga. – Ele disse, se levantando rápido e indo até o telefone de sua sala. Lua fez uma cara feia. – Ela já me ligou sete vezes. – Arthur discou o número de casa, mas chamava, chamava e ninguém atendia. – Ela não está em casa?! 
- Uuuuuhhh... A esposinha também arrumou alguém pra se divertir... –
 Lua zombou de Arthur, que lançou um olhar meio bravo a ela, que soltou um risinho. – Brincadeirinha... 
- E se ela estiver vindo pra cá,
 Lua? Ela deve estar desconfiada! Faz um mês e meio que eu estou dando desculpas, recuando... Qualquer mulher suspeitaria! 
- Você não está... dormindo com ela? –
 Lua perguntou parecendo inocente. 
- Bom, dormir tem sido a única coisa que a gente faz junto, porque transar... Sem chance. – Ele brincou, tornando a ligar pra
 Anna. – O celular está desligado. Se ela estiver vindo pra cá, a gente ta ferrado e... – Lua o interrompeu de repente, beijando-o. 
- Calma... Ela já deve estar dormindo... Fica tranquilo... – Ela foi beijando-o de leve e descendo suavemente pelo pescoço e pelo peito nu dele. Ele riu e puxou firme a cintura dela, fazendo os dois caírem na poltrona de couro. Eles gargalharam e
 Lua se ajeitou, ficando sobre o colo dele. Os dois começaram as carícias, os toques mais íntimos, os gemidinhos de prazer... Lua estava provocandoArthur, masturbando-o e beijando seu pescoço, além das leves mordidinha que distribuía, quando Arthur olhou para a porta e viu seu pesadelo tornando real. 

-
 Anna... – Ele sussurrou abismado, e Lua parou suas carícias para encará-lo. Ele estava branco como papel, olhando para a porta atrás dela. Lua virou e deu de cara com uma linda ruiva, com o rosto banhado de lágrimas e uma arma apontada para eles. 
- Até tarde trabalhando?! – Ela gritou raivosa.
 Lua não conseguia se mover, assim como Arthur, que pensava em algo pra dizer, mas não havia nada a ser falado. 
-
 Anna, amor... Larga essa arma. – Ela tinha visto a cena e pegado a arma que tinha sido deixada no chão, perto do divã. – Por favor, anjo... 
- Cala a boca,
 Arthur! Eu só vou largar depois de matar essa vagabunda! Só assim a gente vai ser feliz! Só nós dois. – Lua, que estava só de lingerie, se levantou e ficou de pé, ao lado da cadeira.Anna a seguiu com a arma. 
- Pode matar. –
 Lua disse desafiadora. - Lua! – Arthur gritou, repreendendo-a. 
- Não duvide de mim, sua puta! –
 Anna disse, destravando a arma. 
- Eu não estou. –
 Lua disse com a voz meio soberba. – Acha mesmo que se me matar, ele vai te amar? Ele não te ama. Nunca te amou! Isso não vai começar com a minha morte. 
- Vamos ver. – Depois dessa frase de
 Anna, foi tudo muito rápido. O estampido do tiro, Lua fechou os olhos e quando os abriu de novo, viu Arthur, desfalecendo em sua frente, com um tiro no pulmão direito, e segundos depois dele ter caído, ainda pòde ver Anna, com a arma na mão e o rosto que estampava o seu choque gigantesco. 
- Sua estúpida! Olha o que você fez! –
 Lua gritou, abaixando-se para falar com Arthur. Virou-o de barriga para cima. – Arthur, Arthur! Fala comigo! Fala comigo, Arthur! Fala comigo, meu amor... – Lua foi interrompida pelo barulho da arma caindo no chão e de Anna, saindo correndo e chorando dali. – Covarde... – Lua pôs a mão na jugular de Arthur e não havia mais sinal vital. Apoiou a cabeça em seu peito e chorou. O único que ela amou, o único que a amara. Estava morto agora. 
De repente, lhe veio uma ideia:
 Anna poderia ligar para a polícia. Ligar dizendo que ela tinha matado Arthur. Pegou o celular dele correndo e discou o número de emergências, já pensando em sair dali. Fez uma voz fina e fingiu ser Anna, anunciando que o marido desaparecera e não avisara nada. Saiu assim que desligou o telefone, deixando o corpo sem vida de Arthur lá. 
Ela corria, ainda chorando, pensando em que lugar ela pudesse ficar. Ao mesmo tempo, a imagem de
 Arthur inerte naquela sala a feria. A deixava cada vez mais zonza. Ela se apoiou em uma parede para tentar pegar um pouco de ar e para que as coisas parassem de girar. 
- Senhorita? Você está bem? – Ela ouviu um senhor chamá-la. Não conseguiu responder. Só viu tudo ficar negro e perder os sentidos.
 

Lua abriu os olhos e viu tudo branco. Assim que suas pupilas se acostumaram com aquela luz intensa, ela pode reconhecer onde estava: no hospital. Lembrou que perdera os sentidos na rua. O senhor deve tê-la levado para o hospital. Viu uma enfermeira entrar.
 
- Senhorita! Que bom que acordou! Vou chamar o médico! – E saiu em seguida.
 Lua tentou se sentar, mas suas pernas estavam dormentes, provavelmente, pelo efeito de alguma substância que eles teriam dado a ela. O médico entrou instantes depois, com um sorriso que parecia feliz. 
- Que bom que a senhorita acordou. Como se sente?
 
- Bem... Mas eu quero ir embora.
 
- Coma e você poderá ir. Uma moça no seu estado tem que se alimentar muito bem. – Ele ordenou à enfermeira que trouxesse comida.
 Lua ficou refletindo: Qual seria seu estado? 
- Doutor... Qual seria exatamente o meu estado?
 
- A senhorita não sabe? –
 Lua negou. – Você está grávida. – Lua se sentiu zonza de novo. 
- Grávida?!
 
- É. Um mês, senhorita... Eu não sei seu nome. A senhorita chegou sem identificações.
 
- Senhora
 Aguiar.
- A senhora quer que eu avise seu marido?
 
- Não. Eu sou viúva. –
 Lua disse pesarosa. – É só me liberar que vou pra casa de táxi. E eu prometo parar na primeira Starbucks que eu ver e comer. – Ele fez cara de desconfiado. – Eu juro! Eu só odeio comida de hospital. – Ele fez cara de pensativo. 
- Ok. Vou assinar a sua alta e já volto. Vai se vestindo. A enfermeira arrumou umas roupar pra você. A senhora não estava com muitas roupas quando chegou aqui. –
 Lua soltou um sorrisinho e concordou. – Já volto. – Lua se levantou, voltando a sentir seus pés, e começou a vestir a blusa e o jeans que a enfermeira havia arrumado pra ela. Ela terminou de se vestir, o médico voltou e ela foi liberada. 

Lua foi andando pela rua, pensando no que faria com esse filho, agora que todos que a apoiavam estavam mortos. Seu pai, seu irmão, seu amor. Pensava em como manteria uma criança sendo matadora de aluguel. Como se manteria durante a gravidez. Não poderia trabalhar grávida. Teria que trabalhar o máximo possível enquanto pudesse e gastar o mínimo possível. E quando ele nascesse? O que faria? Fugir da policia sozinha é uma coisa. Fugir com um filho é algo completamente diferente. Nunca conseguiria voltar à sua vida civilizada para poder criar um filho. Pensaria nisso depois. Precisava fazer outra coisa primeiro.
 

[...]

Anna abriu os olhos assustada. Só se lembrava de estar entrando em casa e sentir algo forte a golpeando, fazendo-a perder os sentidos. Acordou amarrada a uma cadeira e com uma mordaça na boca. Estava numa casa que parecia abandonada, cheia de teias de aranha. Ela começou a se desesperar e ouviu passos se encaminhando até ela com uma arma na mão.
 
- Alô? – Ela viu
 Lua falar ao telefone. – Detetive Wood? Aumente a minha lista de assassinatos. Ele foi morto, certo? E agora, a assassina vai pagar. É a vez dela. – E Lua atirou no meio dos olhos dela. – Está feito. 


Fim  

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